Burnout ou Burn On? Você pode estar vivendo no automático e nem percebe!

Estresse crônico, hiperprodutividade e esgotamento: entenda a diferença e o impacto no seu bem-estar.

Gleidson Costa

5/21/20255 min read

Introdução

O burnout, por muito tempo interpretado como uma fragilidade pessoal ou um problema individual, tem sido reconfigurado nas últimas décadas como um fenômeno relacional e organizacional. A exaustão emocional, o cinismo e a sensação de ineficácia, que definem o burnout segundo Christina Maslach e colaboradores, são reações previsíveis a ambientes de trabalho mal estruturados, desumanizados e exigentes além da conta.

A pandemia de COVID-19 acentuou essas fragilidades, mas elas não são novas. As estruturas rígidas, a sobrecarga contínua e a desconexão entre propósito e trabalho são ingredientes que silenciosamente alimentam o desgaste. Neste artigo, vamos aprofundar a compreensão sobre o burnout sob três lentes: os estressores crônicos no trabalho, abordagens contemporâneas como o “burn on” e, por fim, estratégias para reverter esse quadro com soluções sustentáveis e humanas.

1. O impacto dos estressores crônicos no ambiente de trabalho

Estresse bom vs. estresse tóxico

O estresse em si não é um vilão. Quando bem dosado, ele pode funcionar como combustível para a produtividade, criatividade e crescimento profissional. O problema emerge quando o estresse se torna crônico, ininterrupto e sem contrapartidas emocionais ou institucionais adequadas. Nesse cenário, o corpo e a mente entram em colapso.

Segundo o modelo dos seis domínios da Maslach e Leiter, o burnout aparece quando há uma incompatibilidade entre o profissional e seu ambiente em uma ou mais dessas áreas:

  • Carga de trabalho excessiva

  • Falta de controle sobre o que se faz

  • Recompensas insuficientes (financeiras, sociais ou emocionais)

  • Clima organizacional tóxico ou rupturas de comunidade

  • Sensação de injustiça ou favorecimento

  • Conflitos entre valores pessoais e organizacionais

Esses fatores, quando prolongados, geram desgaste contínuo. O corpo permanece em estado de alerta constante, o sistema imunológico enfraquece, o sono se deteriora, e o prazer pelo trabalho se apaga. Estudos demonstram que o burnout está associado a maiores índices de doenças cardiovasculares, depressão, ansiedade, afastamentos por saúde e turnover.

Dados preocupantes

De acordo com a ISMA-BR (associação afiliada à International Stress Management Association), o Brasil está entre os países com maior índice de burnout do mundo. Estima-se que cerca de 30% da força de trabalho ativa no país sofra de algum nível da síndrome. Em setores como educação, saúde e tecnologia, esses números são ainda mais alarmantes.

A Deloitte Global Millennial Survey reforça esse panorama: mais de 50% dos millennials relatam sentir-se estressados com frequência, citando o excesso de trabalho, a falta de propósito e o medo de demissão como gatilhos centrais.

2. Abordagens diferenciadas sobre burnout, incluindo o conceito de “burn on”

Além do burnout: o fenômeno do “burn on”

Recentemente, pesquisadores e clínicos passaram a investigar um fenômeno relacionado, mas menos visível: o burn on. Ao contrário do burnout clássico, que se manifesta por exaustão, distanciamento emocional e queda de performance, o burn on é um estado de exaustão mascarada por hiperprodutividade.

A pessoa em burn on continua cumprindo metas, é elogiada por sua entrega e dedicação, mas está emocionalmente esgotada, fisicamente no limite e psicologicamente desconectada de si mesma. É o modo “piloto automático” crônico, mantido por medo, culpa ou desejo de reconhecimento. Isso a torna mais difícil de identificar e mais perigosa a longo prazo.

Diferença entre burnout e burn on

Embora muitas pessoas já conheçam o burnout — aquele estado de exaustão extrema, desânimo e queda de desempenho no trabalho — poucos sabem que existe um fenômeno silencioso chamado burn on. No burnout, a pessoa chega ao limite: perde energia, sente-se desconectada do trabalho e tem dificuldade até de cumprir suas funções. Já no burn on, o desgaste também existe, mas é mascarado pela hiperprodutividade. A pessoa continua produzindo muito, muitas vezes é elogiada pelo seu desempenho, mas vive em um estado constante de tensão, ansiedade e sobrecarga, sem perceber que está esgotando seus próprios recursos emocionais e físicos. É como estar em “piloto automático” no modo sobrevivência, mantendo a aparência de eficiência, enquanto internamente caminha silenciosamente para um colapso.

Enquanto o burnout é um colapso, o burn on é uma crônica de um colapso anunciado. Reconhecer os sinais precoces é essencial para intervenções eficazes e humanas.

3. Estratégias para melhorar a relação entre profissionais e seus empregos

Superar o burnout não depende apenas de meditação, pausas ou resiliência individual. Ainda que essas práticas tenham valor, elas não substituem a responsabilidade organizacional. É preciso agir sobre os ambientes que produzem estresse crônico e desconexão. Veja algumas estratégias fundamentadas:

3.1 Redesenhar o trabalho com foco no bem-estar

  • Avaliar as cargas reais de trabalho e redistribuir tarefas de forma mais equitativa.

  • Oferecer autonomia real na execução das atividades.

  • Garantir pausas legítimas, inclusive incentivando a desconexão digital fora do expediente.

3.2 Desenvolver liderança humanizada

  • Capacitar gestores para práticas de escuta ativa, empatia e apoio emocional.

  • Treinar líderes para reconhecer sinais de burnout, agir preventivamente e não reforçar padrões de burn on.

  • Promover feedbacks contínuos com foco em desenvolvimento, e não apenas desempenho.

3.3 Fortalecer a cultura organizacional

  • Estimular o sentido de pertencimento, inclusão e segurança psicológica.

  • Criar canais anônimos para denúncias e sugestões.

  • Revisar políticas de promoção, reconhecimento e justiça interna.

3.4 Adotar programas de saúde mental com profundidade

  • Oferecer suporte psicológico contínuo, e não apenas emergencial.

  • Implementar diagnósticos periódicos de riscos psicossociais (como prevê a nova NR-1).

  • Incorporar práticas de mindfulness, autocompaixão, inteligência emocional e equilíbrio trabalho-vida.

3.5 Reavaliar o conceito de “profissional ideal”

  • Valorizar a performance sustentável, e não a entrega a qualquer custo.

  • Criar rituais de encerramento e de reconhecimento que reforcem o valor do ser humano, não apenas o do produtor.

Considerações finais: do diagnóstico à ação

Compreender o burnout é uma etapa essencial, mas não suficiente. O verdadeiro desafio está em agir. Organizações saudáveis não são aquelas que oferecem mesas de ping-pong ou happy hours, mas sim aquelas que levam a sério o sofrimento humano, que ouvem, ajustam, transformam. E profissionais saudáveis são aqueles que reconhecem seus limites, cultivam vínculos e não sacrificam sua saúde por metas inalcançáveis.

O burnout é um sinal de que algo no sistema está doente. Pode ser um pedido de socorro. Pode ser um ponto de virada.

Como a ZEST pode ajudar

Na ZEST Desenvolvimento Humano, unimos ciência, empatia e resultados para transformar a forma como empresas cuidam de gente. Atuamos com:

  • Diagnóstico de riscos psicossociais conforme a nova NR-1

  • Mentorias como a FLOWMIND, para prevenção ao burnout e desenvolvimento de competências emocionais

  • Treinamentos de liderança humanizada

  • Programas contínuos de saúde mental, bem-estar e performance sustentável

Se sua empresa deseja sair do piloto automático e construir um ambiente emocionalmente seguro e produtivo, fale conosco. Estamos prontos para ser seu parceiro nessa jornada.