Do Estresse Cotidiano ao Burnout: Como Acontece Essa Jornada Invisível?

Uma visão neurobiológica, psicológica e sociocultural do adoecimento no trabalho — e o que empresas e profissionais podem fazer para interromper o ciclo.

Gleidson Costa

12/1/20254 min read

Introdução

A pergunta que quase todo profissional feito hoje: “Como cheguei até aqui?” ninguém acorda em uma segunda-feira e simplesmente entra em Burnout. O caminho é silencioso, progressivo e quase sempre imperceptível até que o corpo e a mente enviam um sinal claro: “não consigo mais”.

A ZEST trabalha diariamente com profissionais e empresas que vivem esse ciclo. E uma frase frequente é: “Eu achava que era só cansaço… até perceber que já não tinha energia para ser quem eu era.”

Para entender como isso acontece, precisamos olhar para três camadas interligadas:

  1. Neurobiologia do estresse

  2. Psicologia e comportamento

  3. Cultura do trabalho e fatores organizacionais

Este artigo integra essas três dimensões para explicar, de forma clara e prática, como alguém pode sair de um estresse cotidiano e chegar ao Burnout — e o que fazer para evitar que isso aconteça.

1. Estresse Cotidiano: O Início da Jornada (e por que ele é ormal)

O estresse faz parte da vida. É uma resposta natural do cérebro e do corpo a desafios.
Na verdade, ele é essencial: ativa o foco, impulsiona ações, desbloqueia energia.

Do ponto de vista neurobiológico, nesse estágio temos:

  • ativação leve do eixo HPA

  • liberação de adrenalina e cortisol em níveis seguros

  • aumento temporário da atenção e prontidão

  • rápida recuperação após o evento estressor

Até aqui, tudo corre bem.
O problema começa quando não há mais espaço para a recuperação.

2. Estresse Persistente: Quando o corpo não desliga mais

É o momento em que você termina o expediente, mas a mente continua trabalhando.
Vai dormir pensando em prazos, acorda cansado, sente dificuldade de relaxar.

Neurobiologicamente:

  • cortisol permanece elevado por mais tempo

  • o sistema nervoso simpático (alerta) fica continuamente ativado

  • o parassimpático (recuperação) perde espaço

  • o cérebro entra em “hipervigilância emocional”

É o início da sobrecarga fisiológica.
Do ponto de vista social, vivemos numa cultura que normaliza isso:
“faz parte”, “todo mundo está cansado”, “é assim mesmo”.

Esse normalização é um dos fatores que empurra milhares de profissionais para o próximo estágio.

3. Estresse Crônico: A quebra da capacidade de recuperação

Aqui o estresse já deixou de ser um episódio e se transformou em um estado permanente.

É nessa fase que começam sintomas como:

  • irritabilidade

  • lapsos de memória

  • dificuldade de concentração

  • dor muscular constante

  • sensação de estar sempre “no limite”

  • cansaço que não passa

O que acontece no cérebro?

  • o hipocampo (memória e regulação do cortisol) começa a perder volume funcional

  • a amígdala fica mais reativa

  • o córtex pré-frontal perde eficiência

  • surge inflamação sistêmica de baixo grau

  • o sono se desregula, amplificando o ciclo

Em termos socioculturais, é o estágio onde o trabalhador “funciona”, mas à custa da própria saúde.
É comum a sensação de que “só preciso de um descanso”, quando na verdade o corpo já está em desgaste profundo.

4. Exaustão: O Ponto de Ruptura

É o momento em que o corpo diz “chega”.
Mesmo querendo produzir, a energia não vem.
Mesmo tentando se concentrar, o cérebro não responde.

Aqui já existem alterações biológicas importantes:

  • disfunção do eixo HPA (picos e quedas de cortisol)

  • esgotamento do sistema dopaminérgico (colapso motivacional)

  • queda da imunidade

  • piora do humor

  • sensação de despersonalização (“não sou mais eu mesmo”)

É comum a pessoa se culpar por não estar rendendo, o que aumenta ainda mais o ciclo de estresse.

5. Burnout: Quando o sistema inteiro entra em colapso

Segundo a OMS (CID-11), Burnout é uma síndrome ocupacional — resultado direto de estressores crônicos no trabalho mal geridos.

A síndrome é marcada por três pilares:

  1. Exaustão extrema

  2. Despersonalização ou cinismo

  3. Perda de eficácia profissional

Neurobiologicamente, estudos mostram:

  • redução do volume do hipocampo

  • hiperatividade da amígdala

  • redução de conectividade no pré-frontal

  • inflamação aumentada

  • disfunção dopaminérgica (queda de motivação e prazer)

Ou seja:
Burnout não é “fraqueza emocional” — é um colapso físico + emocional + cognitivo.

Socioculturalmente, ele emerge em ambientes de:

  • metas desumanas

  • falta de autonomia

  • pouca segurança psicológica

  • comunicação deficiente

  • ausência de reconhecimento

  • liderança despreparada

  • alta demanda emocional

  • excesso de conexão digital

Por que tantas pessoas chegam ao Burnout hoje?

Porque vivemos uma combinação potente de fatores:

  • trabalho acelerado por tecnologia

  • fronteiras borradas entre vida pessoal e profissional

  • cultura produtivista: “mais, mais, mais”

  • precarização emocional: “não tenho tempo de sentir”

  • pressão por alta performance constante

  • falta de espaços de recuperação

E isso cria uma tempestade perfeita:
estresse cotidiano → estresse persistente → estresse crônico → exaustão → Burnout.

O que impede esse ciclo? Recuperação + Autonomia + Suporte

A ciência é clara: não existe performance sustentável sem recuperação adequada.

Para interromper a jornada rumo ao Burnout, profissionais e organizações precisam atuar em 3 níveis:

1. Nível Individual — O que o profissional pode fazer?

  • reconstruir a rotina de sono

  • criar micro-pausas (ciclos ultradianos)

  • treinar modulação do sistema nervoso (respiração, grounding, mindfulness)

  • identificar sinais precoces

  • reorganizar demandas e prioridades

  • exercício físico regular

  • reconstruir limites saudáveis

  • buscar psicoterapia focada em estresse e regulação emocional

2. Nível Organizacional — O que a empresa precisa fazer?

Um ponto essencial da filosofia da ZEST:

Burnout tem muito mais relação com o ambiente do que com o indivíduo.

Assim, empresas precisam:

  • mapear riscos psicossociais (NR-1)

  • melhorar canais de comunicação

  • treinar lideranças para gestão humanizada

  • melhorar processos e fluxo de trabalho

  • reduzir demandas desnecessárias

  • criar políticas de descanso e desconexão

  • promover segurança psicológica

  • valorizar reconhecimento e pertencimento

  • oferecer suporte emocional estruturado

3. Nível Sociocultural — O que a sociedade precisa rever?

  • a ideia de que “cansar é normal”

  • a glorificação da urgência

  • a sociedade do desempenho (Byung-Chul Han)

  • a crença de que produtividade é igual a valor pessoal

  • a cultura do “estar sempre disponível”

Precisamos construir uma cultura mais humana, mais consciente, mais sustentável.

Conclusão

O Burnout não é um evento. É uma trajetória. E justamente por ser um processo, ele pode ser prevenido, interrompido e tratado.

Quando profissionais entendem essa jornada, reconhecem seus sinais.
Quando empresas entendem essa jornada, conseguem transformar ambientes.
Quando a sociedade entende essa jornada, trabalha por modelos mais saudáveis.

O papel da ZEST é exatamente esse: transformar conhecimento em ação para promover saúde mental, performance sustentável e culturas de trabalho mais humanas.

Como a ZEST pode ajudar?

Nós oferecemos programas de educação corporativa, protocolos baseados em evidências e mentorias como a FLOWMIND, focadas em:

  • gestão do estresse

  • prevenção ao Burnout

  • inteligência emocional aplicada

  • rotina sustentável de trabalho

  • liderança humanizada

  • autoconsciência e recuperação ativa

Se você ou sua empresa querem entender melhor o estresse e construir ambientes mais saudáveis, entre em contato conosco.