O Futuro do Trabalho Já Começou: Entre a Esperança Criativa e a Sociedade do Cansaço
Como inteligência artificial, novas habilidades e mudanças organizacionais estão redesenhando o trabalho — e por que precisamos olhar para Domenico De Masi e Byung-Chul Han para não adoecermos no caminho.
7/15/20255 min read


O que está mudando no trabalho? Praticamente tudo.
Segundo os relatórios mais recentes do Fórum Econômico Mundial (FDC/WEF) e da Microsoft (Work Trend Index 2025), estamos diante de uma transformação sem precedentes: a emergência das “empresas fronteira” (Frontier Firms), movidas por inteligência artificial sob demanda, equipes híbridas (humanos + agentes digitais) e a reconfiguração total da forma como produzimos, colaboramos e lideramos.
Ao mesmo tempo em que surgem novas funções (como AI Agent Managers e Especialistas em Big Data), outras desaparecem: caixas, operadores de telemarketing, assistentes administrativos, entre outras. Segundo a FDC (Fundação Dom Cabral), cerca de 22% dos empregos atuais serão transformados ou substituídos até 2030 (Futuro Jobs, Report 2025).
Mas essa transformação não é apenas tecnológica. Ela é, antes de tudo, humana. E para compreendê-la em profundidade, precisamos convocar dois pensadores indispensáveis: Domenico De Masi, com sua visão sobre o ócio criativo, e Byung-Chul Han, com sua crítica contundente à sociedade do desempenho.
Tendência 1: Inteligência sob demanda e o colapso dos organogramas tradicionais
A Microsoft afirma que estamos migrando rapidamente para empresas onde cada profissional será um "chefe de agentes", isto é, alguém capaz de treinar, delegar e gerenciar inteligências artificiais em suas rotinas de trabalho segundo a Work Trend Index 2025.
Essas equipes híbridas estão rompendo com a estrutura vertical e hierárquica que marcou o século XX. Surge o conceito de Work Chart, onde os profissionais são alocados por projeto e não por função. Um modelo inspirado na indústria cinematográfica, onde times se formam, entregam e se dissolvem.
Essa flexibilidade tem potência, mas também risco: a fluidez pode virar fragmentação, e o excesso de conexões pode gerar sobrecarga invisível — o tipo de sofrimento que Byung-Chul Han denuncia.
“A sociedade do desempenho é uma sociedade do cansaço. [...] Nela, o sujeito se explora a si mesmo até o esgotamento.” — Byung-Chul Han, Sociedade do Cansaço (2010)
Tendência 2: Falta tempo e energia — e o burnout se alastra
Segundo o Work Trend Index 2025, 80% dos trabalhadores dizem não ter tempo ou energia para realizar suas tarefas e 48% relatam que seu trabalho está fragmentado e caóticoWTI-2025-04-The-Year-th….
O problema não é apenas excesso de tarefas, mas a lógica de desempenho infinita. Numa sociedade onde “tudo é possível” e o ideal é “ser o seu melhor o tempo todo”, o fracasso é vivido como culpa pessoal. Isso adoece. Han chama isso de “liberdade coercitiva”, uma nova forma de dominação sem opressor externo, onde o sujeito se autoexplora voluntariamente.
A IA surge como promessa para aliviar essa carga. Mas o que vamos fazer com o tempo livre que ela liberar? Essa é a pergunta que Domenico De Masi já fazia há décadas.
“Não sabemos o que fazer com o tempo que economizamos com a tecnologia. O ócio, que deveria ser criativo, vira vazio.” — Domenico De Masi, O Ócio Criativo (2000)
Tendência 3: As habilidades do futuro são humanas — e não só técnicas
Apesar da ascensão da IA, os dois relatórios são unânimes: as habilidades mais valorizadas serão profundamente humanas.
Entre elas:
Pensamento analítico e criativo
Resiliência, flexibilidade e agilidade emocional
Empatia, escuta ativa, liderança e influência social
Curiosidade e aprendizado contínuo.
Isso mostra que a inteligência emocional, a capacidade crítica e o autoconhecimento não serão substituídos, mas ampliados pelas máquinas. O humano que sabe usar a tecnologia com discernimento e ética terá vantagem.
Domenico De Masi chamaria isso de “trabalhador pós-industrial”: alguém que une conhecimento técnico, prazer estético e consciência social. Não é sobre fazer mais. É sobre fazer com mais sentido.
Tendência 4: A transição verde e os “empregos do amanhã”
Quase metade das empresas prevê investimentos crescentes na transição verde — reduzindo emissões, otimizando cadeias produtivas e criando funções ligadas à sustentabilidade (Futuro Jobs, Report 2025).
Isso impulsiona o surgimento dos chamados “empregos verdes”, como engenheiros ambientais, especialistas em energias renováveis, analistas de sustentabilidade, entre outros.
Trabalhar com propósito real, em projetos sustentáveis e regenerativos, pode ser uma resposta ao cansaço existencial do trabalho alienado. Como alerta Byung-Chul Han, “não é a aceleração em si que adoece, mas a ausência de sentido na ação”.
Tendência 5: Desigualdade digital e o risco de exclusão
A FDC (Fundação Dom Cabral) alerta que o Brasil enfrenta uma barreira severa na transformação do trabalho: a lacuna educacional. Muitos profissionais ainda carecem de competências básicas em português, matemática e lógica digital (Futuro Jobs, Report 2025).
Esse hiato pode ser ampliado pela IA, que exige alfabetização tecnológica mínima. Ou seja, a revolução tecnológica pode aprofundar desigualdades sociais se não for acompanhada de inclusão digital, formação técnica e políticas públicas eficazes.
Como lembra De Masi, “o trabalho deixou de ser uma necessidade técnica e tornou-se uma necessidade social”. Se ele não for distribuído de forma justa, torna-se um campo de exclusão.
Tendência 6: Upskilling e Requalificação — a nova urgência estratégica
Quase 85% das empresas entrevistadas pela FDC e Microsoft planejam investir em requalificação (reskilling) e aprimoramento (upskilling) de seus trabalhadores. Plataformas como LinkedIn Learning, Coursera e bootcamps técnicos ganham força (Futuro Jobs, Report 2025)
No entanto, é fundamental que esse aprendizado vá além da técnica. Como sugere Byung-Chul Han, precisamos educar também para a lentidão, o cuidado, a contemplação e a pausa. Sem isso, treinaremos operários digitais esgotados.
“Só quem sabe demorar-se pode habitar o tempo.” — Byung-Chul Han, O Aroma do Tempo (2009)
Conclusão:
O futuro do trabalho já começou. Ele está sendo moldado por inteligência artificial, novos arranjos organizacionais, transição verde e a pressão constante por mais produtividade. Mas também está sendo atravessado por exaustão, ansiedade e sentido perdido.
Se não cuidarmos da dimensão humana do trabalho, corremos o risco de adoecer com a tecnologia que deveria nos libertar.
Por isso, Domenico De Masi e Byung-Chul Han nos ajudam a reequilibrar a equação. Precisamos da técnica — mas também do ócio criativo. Precisamos de desempenho — mas também de contemplação. Precisamos de produtividade — mas também de propósito.
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Em um mundo onde máquinas pensam cada vez mais, o diferencial continuará sendo a nossa capacidade de sentir, refletir e se conectar com propósito.
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