No ambiente de trabalho moderno, a pressão por resultados e a alta demanda por produtividade tornam o estresse um desafio inevitável para profissionais liberais. Em meio à busca constante por equilíbrio, é possível encontrar maneiras de gerenciar o estresse e cultivar um estado de bem-estar sustentável. Filósofos e pesquisadores de diversas áreas oferecem orientações práticas para desenvolver resiliência, aumentar a qualidade de vida e preservar a saúde mental, mesmo em meio a desafios.
1. Resiliência e Controle sobre o Que Está ao Alcance
Para lidar com o estresse de maneira eficaz, é essencial aprender a diferenciar aquilo que está sob o controle de cada um. Epicteto, um dos filósofos da escola estoica, afirmava que “não são os eventos em si que perturbam os homens, mas os julgamentos que fazemos sobre eles” (Epicteto, 2006). A partir dessa perspectiva, ele sugere focar nos aspectos que dependem diretamente de nossas atitudes e pensamentos, deixando de lado o que não está ao alcance. Profissionais que adotam essa mentalidade tendem a reagir com mais tranquilidade diante de situações adversas, pois compreendem que o controle está na maneira como interpretam e reagem aos acontecimentos.
2. Cultivo da Gratidão e Atenção ao Presente
Estudos científicos têm demonstrado que o cultivo da gratidão pode ter um impacto significativo no bem-estar emocional e na redução dos níveis de estresse. Martin Seligman (2011), por exemplo, destaca que práticas simples de gratidão ajudam a fortalecer emoções positivas, contribuindo para uma visão mais otimista da vida. Para os profissionais liberais, reservar um momento diário para refletir sobre realizações, conquistas e aspectos gratificantes do trabalho pode auxiliar no combate ao desgaste emocional, aumentando a satisfação no trabalho.
Outra prática benéfica é a atenção plena no presente. O filósofo Séneca (2004) defendia que a qualidade de vida depende do foco nas atividades do presente, evitando a ansiedade em relação ao futuro ou o arrependimento pelo passado. Ao trazer a mente para o presente, o profissional encontra mais espaço para relaxar e apreciar o trabalho, transformando-o em uma fonte de realização, e não apenas de obrigação.
3. Autocompaixão: Reduzindo a Autocrítica
Para muitos profissionais, um fator que intensifica o estresse é a autocrítica exagerada, especialmente em cenários onde há uma pressão constante por excelência. Segundo Kristin Neff (2011), a autocompaixão pode ser uma poderosa ferramenta para gerenciar o estresse, pois permite que os indivíduos tratem a si mesmos com a mesma bondade e compreensão que teriam por um amigo em situação similar. Essa prática ajuda a reduzir a pressão e a ansiedade, contribuindo para um ambiente interno mais acolhedor e menos crítico. Incorporar a autocompaixão na rotina, especialmente em momentos de falha ou desafios, promove um estado mental mais resiliente e menos sujeito ao esgotamento.
4. A Valorização do Propósito e Significado no Trabalho
Outro aspecto importante para o bem-estar no trabalho é encontrar significado nas atividades cotidianas. Viktor Frankl, psicólogo e sobrevivente do Holocausto, enfatiza que “aqueles que têm um porquê suportam quase qualquer como” (Frankl, 2015). O desenvolvimento de um propósito claro em relação ao trabalho não apenas fornece motivação, mas também contribui para uma sensação de realização, diminuindo o estresse associado a tarefas rotineiras. Profissionais que conseguem alinhar suas atividades diárias com um propósito mais amplo tendem a ser mais resilientes e menos propensos ao desgaste emocional.
5. Práticas de Autocuidado e Limites Saudáveis
Cuidar da própria saúde física e mental é um aspecto fundamental para profissionais que desejam lidar com o estresse de forma eficaz. A pesquisa de Tal Ben-Shahar (2007) aponta que práticas de autocuidado, como sono adequado, exercícios regulares e uma dieta equilibrada, influenciam diretamente a disposição e a resiliência emocional. Definir limites claros entre trabalho e vida pessoal também é fundamental para manter o equilíbrio. Para isso, profissionais podem estabelecer horários específicos para finalizar o expediente e evitar atividades de trabalho em momentos de descanso, preservando a saúde e a energia para desafios futuros.
6. Adaptação Cognitiva e Reestruturação do Pensamento
Albert Ellis (1997) sugere que muitas das emoções negativas que enfrentamos no dia a dia derivam de pensamentos irracionais ou distorcidos sobre nós mesmos e as circunstâncias que nos rodeiam. Reestruturar esses pensamentos pode ajudar a reduzir o estresse e cultivar uma visão mais positiva do trabalho e da vida. Um exercício útil para isso é questionar os pensamentos automáticos e buscar evidências que os sustentem ou contradigam. Ao adotar uma postura de análise racional sobre as demandas diárias, os profissionais conseguem enfrentar o estresse de forma mais equilibrada e menos reativa.
7. A Prática da Serenidade e Apreciação das Pequenas Vitórias
Por fim, profissionais que dedicam tempo para apreciar as pequenas vitórias do cotidiano são menos suscetíveis ao estresse crônico. Como bem aponta Marcus Aurelius, “a felicidade da sua vida depende da qualidade de seus pensamentos” (Marcus Aurelius, 2011). A serenidade pode ser cultivada ao celebrar conquistas diárias, mesmo que pequenas, e ao reconhecer os próprios progressos. Essa prática fortalece a autoestima e ajuda a manter uma perspectiva positiva, promovendo a sensação de bem-estar e de realização no ambiente de trabalho.
Referências
AURELIUS, Marcus. Meditações. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
ELLIS, Albert. How to Control Your Anxiety Before It Controls You. Nova York: Citadel, 1997.
EPICTETO. Encheiridion: Manual de Epicteto. Tradução de Ubirajara de Macedo. São Paulo: Editora Martin Claret, 2006.
FRANKL, Viktor. Em Busca de Sentido: Um Psicólogo no Campo de Concentração. Tradução de James C. Monteiro. 34ª ed. São Leopoldo: Sinodal, 2015.
NEFF, Kristin. Autocompaixão: Pare de se Cobrar Tanto e Deixe a Insegurança para Trás. Tradução de Sônia Midori Shimada Huber. São Paulo: Lua de Papel, 2011.
BEN-SHAHAR, Tal. Happier: Aprenda os Segredos da Realização Plena. Tradução de Talita M. Rodrigues. São Paulo: Globo, 2007.
SÉNECA, Lúcio Aneu. Sobre a Brevidade da Vida. Tradução de Frederico Ozanam Pessoa de Barros. São Paulo: Martin Claret, 2004.
SELIGMAN, Martin E. P. Florescer: Uma Nova Compreensão sobre a Natureza da Felicidade e do Bem-estar. Tradução de Claudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.